domingo, 13 de setembro de 2009

Ciririca até que enfim!!!


“A vitória tem mais valor quando você já sofreu com a derrota antes“

O tempo ajudou e no dia 29/08/2009 o G.M.A., formado por Eu, Benjamim, Lucyano e Luiz partiu em direção a Fazenda da Bolinha, na madruga às 4h15m, fizemos uma parada no Tio Doca para um café, pois o posto onde fica perto da entrada da estrada onde leva a fazenda estava fechado.
Fizemos o retorno e perdemos uns 30 minutos, comprometendo um pouco a estratégia firmada anteriormente que era ir até o Ciririca por baixo armar a barraca deixar o equipamento e seguir até o Agudo do Cotia na parte da tarde.
Partimos da Fazenda às 6h30min, já com os primeiros raios do sol iluminando a trilha, me descepcionando um pouco pois eu já previa que não conseguiríamos completar todo nosso objetivo. Mas eu já me contentava em estar ali novamente na Mata atlântica indo em direção as entranhas da floresta onde poucos vão.
E na minha mente chegar ao famoso morro das placas onde em outras duas expedições ele tinha nos vencido, me dando mais gana para a revanche, mesmo dando um tempo em tentar conquistar-lo, parece que esperando o dia perfeito, eu não conseguia esquecer-lo.
A trilha até a bifurcação com o Camapuan foi rápida e então partimos para o pedaço que para mim era novidade, porém mais ou menos eu imaginava o que me espera já que Lucyano conhecia a trilha por baixo e tinha nos contado como seria.
O legal é que não precisa carregar água alguma, pois você percorre 5 horas andando pela sombra da floresta passando pelos pés do Camapuan e do Tucum, onde há um pouco de dificuldade numa descida/subida mais forçada, sempre com rios ao seu lado. Principalmente por grande quantidade de chuva que vem caindo neste inverno os córregos estão lotados d’água, facilitando muito nossas vidas.
A trilha por baixo não é muito atrativa como a de cima, passando pelo Camapuan, Tucum e Luar, porém tem seus atrativos tais como as cachoeiras e toda a exuberância da floresta atlântica e apesar de ser mais tranqüila, não tira o mérito na conquista do Gigante.
As paradas sempre aconteciam em algum rio, comendo frutas e bolachas, deixando a famosa farofa, feita desta vez por Benjamim para o cume. Na Última Chance fizemos o abastecimento das garrafas com o liquido precioso e partimos para os campos de altitude e para o sol de meio dia nas cucas.
Que Ciririca diferente daquele lugar não parecia aquela bola de pedra com um formato de “caranguejo do mato” como se traduz o seu nome. Logo avistei o morro onde eu e Benjamim havíamos parado no ano passado e putz que droga, bem dizer estávamos na Última Chance, era só descer o rio que naquela oportunidade estava seco e uns 10 minutos estávamos na Última Chance, onde teríamos água e no máximo em uma hora e meia venceríamos o Ciririca.
Tudo bem agora eu conhecia a trilha por cima e a trilha por baixo, não ligava, eu só queria ver as placas e tocar-las como um sinal de carinho por aquela montanha que parece ser temperamental e com um temperamento muito agressivo.
Ainda antes de chegarmos no cume numa parte com um vegetação um pouco mais alta, havia um córrego com água, pela grande quantidade de chuvas dos últimos dias.
Prosseguimos e logo em seguida chegamos a laje do Ciririca, narrada por muitos de uma forma assombrosa por ser íngreme sendo vencida apenas com a vegetação encontrada nas laterais, que é formada por espinhentos abacaxizinhos que espetam os montanhistas sem piedade. Não vi tanta dificuldade, apesar do sol de meio dia na cuca, segui pela pedra mesmo boa parte do trajeto desviando nas laterais, nos trechos mais íngremes e molhados.
Chegamos no primeiro mirante com uma vista privilegiada do Pico Paraná, principalmente dos Camelos onde estivemos a alguns dias atrás.
Ainda não dava prá ver as placas e então prosseguimos. O grupo já estava cansado, mais minha vontade de conquistar aquela montanha era tão grande que segui sem parar vencendo o cume. Lá fiquei um momento parado, vendo aquela cena inusitada, o símbolo daquela montanha, estruturas gigantes feitas de alumínio parecendo duas cestas de basquete, que lá de baixo, a quilometros de distancia, dependendo da direção do sol, refletiam sua luz, provocando a curiosidade de quem percebia tal efeito.
Passamos por baixo da primeira placa, onde a trilha prosseguia e chegamos nas áreas de camping, juntamente a segunda placa.
Após ter deixado a mochila no chão, segui em direção a placa e a toquei, subindo até a metade daquela estrutura, o pessoal se rendeu ao solo e Benjamim liberou uma farofa de coxinhas de frango e ovos cozido, muita proteína para recuperar os músculos depois de 6h30min de caminhada.
Avistando os Agudos, falei para o pessoal prosseguir e recebi um daqui a pouco como resposta, que me fez perceber que naquele dia não iríamos atingir-los. Depois de 1h30min seguimos na trilha para os agudos, já às 14h:45min com apenas uma mochila com lanternas e umas bolachas.
Numa trilha muito fechada, sem marcação e escorregadia, segui guiando o pessoal, descendo o Ciririca, passando muitas vezes beirando uns barrancos que um deslize e o passeio acabaria, fora as escorregadas propícias a uma torção do pé.
Chegamos num local onde existia uma pedra, que só seria vencida com a corda, ali colocada estrategicamente. Quando peguei na corda percebi que o cuidado teria que ser dobrado, pois parecia que tinham passado algum um óleo ou coisa parecida de tão lisa que estava. Segurei em seus nós e desci, já imaginando a volta. Avisei o pessoal do perigo e esperei todos descerem para prosseguir, eu percebia o medo de alguns do grupo em tão difícil acesso naquele lugar, mas eu já esperava isso.
Depois de mais duas partes com cordas, igualmente lisas pela umidade daquela trilha, após vários dias chovendo, chegamos numa laje onde escorria água e tinha um visual muito legal dos agudos. Ficamos admirando aquele visual que com aquele céu azul, parecia uma pintura e observando os destrosos do avião, que repousa nas paredes do Agudo do Lontra, mais para a esquerda a baia de Antonina, com o zoom da maquina deu para pegar uma foto legal do Terminal.
O pessoal pediu “água” e então abortamos a missão ali mesmo, após termos andado uns 40 minutos, eu sabia que não alcançaríamos o Agudo da Cotia, visualmente percebia-se, mas a minha idéia era caminhar até onde desse, para conhecer a trilha.
Pegamos aquela água, que escorria da rocha, ficamos ali até 16h:30min e voltamos ao cume do gigante, a trilha fechada desta vez nos ajudou a subir com o auxilio da vegetação fomos andando e agarrando e com o mesmo tempo da descida fizemos a volta.
Voltando ao cume estendemos as roupas para secar, já que estavam encharcadas de suor e descansamos na laje de pedra perto da placa onde fica o livro cume. Assinamos o livro e em seguida avistamos um grupo com mulheres que chegou para passar a noite na montanha a tempo de pegar o pôr do sol ainda, naquele final de tarde com céu simplesmente limpo.
Peguei o meu saco de dormir e fiquei na laje de pedra curtindo um céu muito estrelado acompanhado do grupo conversamos um pouco comemos e bebemos a jurubeba que parece mais cepacol.
Quase peguei no sono ali mesmo, mas resolvemos ficar na barraca e logo foram pegando no sono. Eu para variar não conseguia dormir, apesar de estar quente e meio confortável (melhor que outros lugares), consegui cochilar já quase amanhecendo e o nascer passou despercebido para todos nós.
Levantamos já com sol forte e tratamos de fazer o tradicional café com restos de miojo, que onde estávamos não havia nada de nojento, porém em casa nunca eu faria.
O café caiu bem ainda com pão, queijo e patê, arrumamos as coisas lentamente, parece que com vontade de ficar mais tempo ali, não querendo voltar para a realidade, mas era hora de partir e vagarosamente seguimos em direção a primeira placa onde passa a trilha.
A descida foi estilo não estou nem aí, vou na boa, e mesmo assim fizemos em 5h30min, nos deparamos na fazenda com uma quantidade de carro imensa, acredito que mais de 20. Fiquei imaginado onde esse pessoal estava e o que seria daquele santuário daqui a alguns anos.
Espero que a consciência esteja também na bagagem destes aventureiros.