sábado, 23 de agosto de 2008

A Volta ao Himalaia Paranaense


Após a primeira inserção ao Himalaia paranaense, não tivemos duvidas em marcar outra expedição, agora buscando conhecer o restante dos gigantes.
O projeto era fazer dois deles o Caratuva com 1.860m e o Itapiroca com 1.805m, no feriadão de 12/10/2007, apesar de não serem tão difíceis de conquistar, usaríamos a folga de tempo para buscar outras possíveis trilhas.
Buscamos um estudo preliminar da região, as possibilidades, a previsão do tempo, etc, agora muito mais organizados do que a primeira vez. Partimos cedo para aproveitar bem o nosso tempo, e fugir do calor que faz próximo ao meio dia. Dessa vez apenas eu e Benjamim, pois Luciano teve que trabalhar no feriadão.
A meta era ir até o Caratuva no primeiro dia bivacar lá e seguir ao Itapiroca no dia seguinte, deixando um dia inteiro para curtir em cada um deles, buscando saber sobre outras possíveis trilhas e eventuais futuras conquistas.
O tempo até o Caratuva é de mais ou menos de 3:00, porém como o clima estava muito seco e nós com muita bagagem para os 3 dias fizemos em um pouquinho mais.
Apesar de planejarmos sair mais cedo para fugir do calor , acabamos saindo cerca de 11:00 da Fazenda Pico Paraná e seguimos rumo ao Getulio com um forte sol sobre nós. A imagem que vimos foi triste, cinzenta e bem diferente da que havíamos visto a alguns meses atrás.
Havia acontecido um terrível incêndio a alguns meses atrás e tinha acabado com parte da vegetação, que é bem sensível nessa época do ano, por não haver muitas chuvas. O fogo chegou a pegar parte do gigante Caratuva, que mostrava sua exuberância apesar daquela grande ferida.
Prosseguimos, a dúvida era com relação a água, se existia na subida do Caratuva ou se teríamos que seguir até a primeira bica da trilha do Paraná, optamos em começar a subir o Caratuva e arriscar a sorte.
Logo na subida encontramos um riozinho quase seco, que trazia consigo um pequeno filetinho d’água que, nos ajudou a matar a sede e encheu nossas reservas desse liquido tão precioso, principalmente com aquele clima tão seco.
A chegada ao cume se deu após cerca de três horas e quarenta minutos da saída da fazenda, na trilha ainda encontramos alguns montanhistas descendo o gigante que nos orientaram quanto a falta d’água da região e que nós tínhamos acertado no abastecimento dos cantis naquela parada.
A identidade do Caratuva se dá com a influência do homem, pois é conhecido como o morro das torres de rádio, que se misturam com aquele visual incrível. Eu sempre digo que o nosso Himalaia tem as suas peculariedades cada morro tem sua identidade seja natural ou artificial como o Caratuva com as torres de radio amador, o Paraná que parece um gigante deitado dependendo do ângulo a ser visto, o Taipabuçu com suas costelas a mostra, o Tucum que parece duas bolas de rocha o Ferraria nosso vulcão adormecido e o Ciririca o mais intrigante de todos com as suas placas que mais parecem duas cestas de basquete gigantes e assim vai.
Montamos a barraca, fizemos um rango, e aproveitamos para curtir o grande morro. Descobrimos possíveis trilhas para o acampamento 1 da trilha do Paraná e para o Taipabuçu, que por sinal tem uma vista lindo do Caratuva, uma das melhores daquela montanha.
O tempo estava muito estranho, não existia vento, ao contrario do que nós tínhamos visto na ida ao Paraná , meses atrás. Aproveitamos para ver o pôr do sol, que com aquela calmaria nos arremetia a uma sensação de liberdade e tranqüilidade total.
Anoiteceu, e nada de vento, só estávamos nós naquela montanha, contudo a nossa volta (Paraná, Itapiroca e Acampamento 1), conseguimos fazer contato usando nossas lanternas, com outros montanhistas.
Dormimos numa tranqüilidade que para mim, era novidade. Acordamos bem cedo para curtir o nascer do astro rei, tiramos mais algumas fotos e partimos para a segunda parte do nosso projeto, o Itapiroca.
Na descida do Caratuva, descobri que o equipamento para a prática desse esporte é muito importante e com isso devesse gastar um pouco mais para adquiri-los e não ficar na mão. Minha mochila arrebentou, pelo peso carregado, pela pressão da descida e pela qualidade do equipamento.
A pergunta era continuar ou não. Após alguns ajustes com silver type e cordas, resolvemos continuar. Paramos na bica da trilha do Paraná, tomei um banho tcheco para renovar as forças e conversamos em seguida, com um casal que tinham passado a noite no Itapiroca e que nos respondiam com sinais de suas lanternas às nossas chamadas.
Começamos a subir o Itapiroca, a quinta maior montanha da região sul com 1.805 m, e não foi muito difícil, apenas uma parada para reidratar e alcançamos o cume em pouco tempo. Montamos acampamento, comemos e seguimos conhecer o restante da montanha. Passamos pelo lado da caixinha do livro cume e avistamos duas possíveis trilhas, porém o tempo mudou.
Começou a cair alguns pingos d’água era o começo de muitos. Resolvemos voltar, parei na caixinha cume, para registrar a nossa estadia, enquanto Benjamim não esperou e retornou a barraca. Terminei de escrever em meio de grandes pingos d’água e comecei a correr, em direção a barraca. Cheguei já com uma forte chuva que só parou por uma hora.
Esticamos um pouco as pernas fora da barraca, tiramos algumas fotos do que ainda estava por vir, e então começou o pior, uma tempestade após um arrebento de um trovão, que não parou até o amanhecer.
Começou às 18:00hs com trovões e chuva, até então nada de mais e então continuou com aquele terrível vento, conhecido nosso, que até aquele momento não tínhamos visto ainda naquela oportunidade.
Não teve jeito, começou a molhar dentro da barraca e no momento bateu arrependimento de não ter voltado naquele dia mesmo. Guardei algumas roupas secas, juntamente com meu saco de dormir dentro de uma sacola, para utilizar quando fosse possível. Ficamos sentados na barraca meio que segundo as varetas com as costas e a temperatura caiu.
Já eram 24:00hs e nada de parar, nem a chuva, nem o vento e agora nem o frio. Então começaram a soltar os grampos da barraca e o risco de ficarmos ao relento era inerente. Tive que ir lá fora enfrentar aquele tempo. Coloquei uma camisa molhada e fui de sunga mesmo, o frio era intenso e eu não conseguia parar de me mexer arrumei do jeito que seu os grampos e entrei na barraca tremendo de frio. O corpo tremia sozinho e então aos poucos fui me enxugando e coloquei a roupa que estava guardada na sacola.
O cansaço era extremo, a coluna já não agüentava aquela posição, então enxuguei o que deu dentro da barraca peguei meu saco de dormi e deitei naqueles poucos centímetros aconchegantes, torcendo que o tempo passasse logo.
Amanheceu, fizemos um miojo com requeijão e salame de café da manhã, já que não tínhamos comido nada depois das 18:00hs do dia anterior, desmanchamos a barraca com muito vento e frio e voltamos a fazenda.
Fizemos a descida em 1:30hs, molhados e cansados voltamos aos nossos lares e no dia seguinte após um descanso merecido, rimos muito da situação que passamos, mais já com saudades daquelas magníficas montanhas e suas belas vistas.

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